sábado, 15 de outubro de 2016

O nosso mundo “Trumperiano”

Poucas candidaturas presenciais e iniciativas políticas têm o condão de, numa forma tão cristalina e reveladora, reflectir a realidade e o mundo em que se propagam como a candidatura de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América.

A popularidade granjeada e conquistada pela ignorância, pela estupidez, pelo preconceito, pela vaidade narcisista e pela ganância avassaladora caída em desgraça numa subjugação ao moralismo hipócrita e ao puritanismo demagogo emanados de um catolicismo torpe e bafiento é uma representação perfeita deste mundo em que vivemos e dos valores e princípios que lhe subjazem.

Quando Trump ameaça construir um muro na fronteira dos EUA com o México para impedir os mexicanos, a quem apelidou de ladrões e violadores, entrar nos EUA, Trump sobe nas intenções de voto e na simpatia e empatia geradas com o seu eleitorado.

Quando Trump exige a Barack Obama que exiba a sua certidão de nascimento para provar que nasceu nos EUA só porque este último é preto e tem as orelhas grandes, Trump sobe nas intenções de voto e na simpatia e empatia geradas com o seu eleitorado.

Quando Trump, que defende a produção e os produtos norte-americanos, é confrontado com o facto de ter feito fortuna com produtos fabricados por mão-de-obra infantil explorada no Vietname, Tailândia, Cambodja etc., Trump sobe nas intenções de voto e na simpatia e empatia geradas com o seu eleitorado.

Quando Trump, que se gaba de ser um dos homens mais ricos dos Estados Unidos e faz da ostentação dessa riqueza um estilo de vida, admite não pagar impostos há mais de 20 anos, Trump sobe nas intenções de voto e na simpatia e empatia geradas com o seu eleitorado.

Quando Trump, numa devassa à sua privacidade, vê exposta uma conversa privada em que, num tom jocoso se vangloria dos seus avanços sexistas numa demonstração de fanfarronice machista que mais de 90% dos homens já deve ter ostentado pelo menos uma vez na sua vida em “conversa de gajos”, aí cai o Carmo e a Trindade e nem a esposa nem o candidato a vice-presidente ousam relativizar a questão, demarcando-se de Trump, como todo o partido republicano e grande parte do seu eleitorado, numa ejaculadora afirmação do seu moralismo e puritanismo imaculados que nem a virgem Maria, afundando nessa exclamação “catolicista” a popularidade de Trump e matando, à partida, as suas hipóteses de eleição enquanto Líder do Mundo Livre.

Nesta ascensão e queda de Trump encontra-se muito da genuína génese das pessoas que fazem deste um mundo “Trumperiano” e que adoraria ilustrar com uma citação do mais recente nóbel da Literatura mas que, por falta de conhecimento aprofundado da sua obra literária cantada, não o conseguirei fazer…Ao invés, e por também achar que mais se apropria e adequa ao pretendido, deixarei essa ilustração citada a cargo, não do respeitadíssimo e venerado cantautor mas do bêbedo e putanheiro poeta Charles Bukowski:  

   

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