Poucas candidaturas presenciais e iniciativas políticas têm o
condão de, numa forma tão cristalina e reveladora, reflectir a realidade e o
mundo em que se propagam como a candidatura de Donald Trump à presidência dos
Estados Unidos da América.
A popularidade granjeada e conquistada pela ignorância, pela
estupidez, pelo preconceito, pela vaidade narcisista e pela ganância
avassaladora caída em desgraça numa subjugação ao moralismo hipócrita e ao puritanismo
demagogo emanados de um catolicismo torpe e bafiento é uma representação
perfeita deste mundo em que vivemos e dos valores e princípios que lhe
subjazem.
Quando Trump ameaça construir um muro na fronteira dos EUA
com o México para impedir os mexicanos, a quem apelidou de ladrões e
violadores, entrar nos EUA, Trump sobe nas intenções de voto e na simpatia e empatia
geradas com o seu eleitorado.
Quando Trump exige a Barack Obama que exiba a sua certidão
de nascimento para provar que nasceu nos EUA só porque este último é preto e
tem as orelhas grandes, Trump sobe nas intenções de voto e na simpatia e empatia
geradas com o seu eleitorado.
Quando Trump, que defende a produção e os produtos
norte-americanos, é confrontado com o facto de ter feito fortuna com produtos
fabricados por mão-de-obra infantil explorada no Vietname, Tailândia, Cambodja
etc., Trump sobe nas intenções de voto e na simpatia e empatia geradas com o
seu eleitorado.
Quando Trump, que se gaba de ser um dos homens mais ricos
dos Estados Unidos e faz da ostentação dessa riqueza um estilo de vida, admite
não pagar impostos há mais de 20 anos, Trump sobe nas intenções de voto e na
simpatia e empatia geradas com o seu eleitorado.
Quando Trump, numa devassa à sua privacidade, vê exposta uma
conversa privada em que, num tom jocoso se vangloria dos seus avanços sexistas
numa demonstração de fanfarronice machista que mais de 90% dos homens já deve
ter ostentado pelo menos uma vez na sua vida em “conversa de gajos”, aí cai o
Carmo e a Trindade e nem a esposa nem o candidato a vice-presidente ousam
relativizar a questão, demarcando-se de Trump, como todo o partido republicano
e grande parte do seu eleitorado, numa ejaculadora afirmação do seu moralismo e
puritanismo imaculados que nem a virgem Maria, afundando nessa exclamação “catolicista”
a popularidade de Trump e matando, à partida, as suas hipóteses de eleição
enquanto Líder do Mundo Livre.
Nesta ascensão e queda de Trump encontra-se muito da genuína
génese das pessoas que fazem deste um mundo “Trumperiano” e que adoraria
ilustrar com uma citação do mais recente nóbel da Literatura mas que, por falta
de conhecimento aprofundado da sua obra literária cantada, não o conseguirei
fazer…Ao invés, e por também achar que mais se apropria e adequa ao pretendido,
deixarei essa ilustração citada a cargo, não do respeitadíssimo e venerado
cantautor mas do bêbedo e putanheiro poeta Charles Bukowski:
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