Já tive oportunidade de, em textos anteriores, ilustrar o
que julgo ser a visão para Europa, e o trilho que pretendem traçar rumo a essa
visão, que os acuais decisores políticos europeus nutrem, cultivam e defendem
acerrimamente.
Constituindo-se o PPE a família política que manda na Europa
actualmente, constituída pelos seus tecnocratas de Bruxelas a mando da Ecofin
de Schäuble e “familiares”, entenda-se da mesma família política, cedo se
percebeu qual a ideia desta “família” para a sua Europa. Agastados com os
“gaps” de produtividade entre os países da periferia europeia e os da Europa
Central perpetuadores, face à impossibilidade de “manietação” cambial e
monetária por contrária serem aos interesses do franco alemão e outras moedas
que tal, de desequilíbrios financeiros cada vez menos bem recebidos pelos
mercados financeiros, a actual elite governativa europeia esboçou um modelo de
desenvolvimento europeu assente numa Europa a duas velocidades.
Esta Europa a duas velocidades caracteriza-se pela coexistência,
dentro do espaço europeu, de dois modelos de desenvolvimento económico
distintos; por um lado um modelo de desenvolvimento económico para os países do
centro e norte da Europa e outro para os países da periferia. Se para os países
do centro e do norte da Europa é defendido um modelo de competitividade assente
em actividades de elevado valor acrescentado necessitadas de elevados índices
de produtividade resultando, por isso, em níveis remuneratórios elevados e
consequentes elevados poderes de compra e elevados níveis de vida para a
população que se constitui a mão-de-obra desses países, para os países da
periferia passou a ser defendido, por este PPE neo-liberal que manda
actualmente na Europa, um modelo de desenvolvimento económico suportado por uma
competitividade derivada da desvalorização do factor trabalho. Não possuindo os
índices de produtividade dos países do centro e do norte, a estes países da
periferia resta serem competitivos por via de praticarem níveis salariais mais
baixos, degenerando num modelo de crescimento assente na desvalorização e
precarização do factor trabalho conducente a mais baixos poderes de compra e à perda
de nível e qualidade de vida da população desses países que constituem a sua
mão-de-obra.
Esta é, segundo o ponto de vista da elite governativa
europeia actual, a única solução viável de subsistência e sobrevivência dos
países da periferia europeia. Assim, é com naturalidade que os representantes
desta visão da Europa defendam, aplaudam, recomendem e receitem até medidas e
políticas que conduzam à concretização dessa visão… Tudo o que contribua para
mudanças estruturais no mercado laboral dos países da periferia no sentido da
desvalorização do factor trabalho e à sua cada vez mais submissa dependência do
factor capital (sob a forma sobretudo de Investimento Estrangeiro) é defendido,
aplaudido e recomendado por estes senhores que pensam mandar e desmandar na
Europa. É também com naturalidade que quando surgem agentes políticos com
visões diferentes da destes, por exemplo governos de países periféricos que
defendam para os seus países modelos de crescimento semelhantes aos do centro e
Norte da Europa, reclamando políticas de educação, formação e qualificação
susceptíveis de dotar as suas populações de índices de produtividade capazes de
substanciar tais modelos de crescimento virtuoso e recusando medidas que visem
somente a desvalorização e precarização do factor trabalho “substanciadoras” do
modelo de crescimento pernicioso que lhes querem impor por conducentes à
precarização das condições de vida da população que constitui esse factor
trabalho serem, aí estes mesmos senhores reagem de forma antagónica e ao invés
de aplausos e lisonjas, reagem com criticismo, reprovação e até provocação.
Assim, quando este “gang” de lobos de sobrenome Schäuble,
que é o principal rosto sinistro da defesa e da imposição desta Europa a duas
velocidades, refere que “Portugal estava a ser muito bem sucedido até ao novo
Governo", tal afirmação apenas poderá ser percepcionada, por quem se
preocupa com a defesa das condições de vida e do bem-estar da população
portuguesa, como um enorme elogio à actual solução governativa, carinhosamente
apelidada de “Geringonça”, e uma duríssima ofensa e crítica à anterior solução
governativa, pretensiosamente auto-denominada de “Portugal à Frente”