Embora pareça estar a passar ao lado do mediatismo nacional,
por motivos variadíssimos, a verdade é que estamos na iminência de escolher o
chefe de Estado Maior e figura máxima da democracia para os próximos cinco
complicados anos da vida dos portugueses. Na questão de saber quem será o
sucessor do “cavaquismo”, que impregnou de sisudez parcial e muitas vezes
irracional o Palácio de Belém, uma pergunta parece ser a fundamental – votar ou
não votar em Marcelo Rebelo de Sousa?
No que ao vosso escriba diz respeito, a resposta à pergunta
“shakespeariana” passa por não votar em Marcelo Rebelo de Sousa,
resposta essa que é sustentada, como em qualquer bom drama novelesco (de que
William Shakespeare é mestre), numa trilogia argumentativa que passo a expor:
1º Argumento – uma questão de poder
A candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa beneficia, na minha
perspectiva, de uma ilegitimidade competitiva que coloca o candidato referido
quinze anos de campanha à frente dos restantes candidatos no início desta
corrida presidencial. Foi desde Maio de 2000 até ao anúncio da sua candidatura
em 2015 (com algumas interrupções pelo meio) que Marcelo Rebelo de Sousa beneficiou de um espaço exclusivo de auto-promoção
em horário nobre para, durante quinze anos, nas lições domingueiras do
professor, nos instruir acerca da sua simpatia, a sua candura, a sua benevolência,
o seu espírito energético e brincalhão mas sério e carregado de bom senso
quando os temas o impunham…Durante 15 anos de campanha, Marcelo Rebelo de Sousa
gerou empatia com a sua
simpatia e com o seu comentário brincalhão afagou os
corações dos portugueses, conquistando-os; muitos dirão que tal se deve ao
carisma e à própria personalidade contagiante do professor mas sejamos sérios, seria
necessário ser-se desprovido de toda e qualquer personalidade e ser um insonso
sensaborão de primeira (vide Aníbal Cavaco Silva) para em quinze anos de
auto-promoção em espaço privilegiado para o efeito e sem qualquer contraditório
ou contraponto, não conseguir gerar a popularidade suficiente traduzível nas sondagens presidenciais. O mais grave e o aspecto que torna este
argumento uma razão para não votar em Marcelo Rebelo de Sousa é que esta ilegitimidade
competitiva designa o poder dos meios de comunicação social em fazer e desfazer
presidentes, em criar e destruir governantes, e um poder que influencia e
perturba as escolhas democráticas decisivamente e que está entregue a
interesses privados e particulares não sujeitos a sufrágio, apenas pode ser um
poder abjecto e anti-democrático. E é exactamente por considerar que este poder
dos meios de comunicação social na sua imiscuição na vida política é uma das
principais ameaças à sanidade da democracia, que jamais votarei numa candidatura
que é a personificação desse poder.
2º Argumento – uma questão de personalidade
O 2º argumento, de ordem mais pessoal, está relacionado com
a personalidade de Marcelo Rebelo de Sousa e sua pretensão à grande magnanimidade.
Pessoalmente, irrita-me este tipo de pessoas que adjectivo de “grandes
magnânimos” e que podem ser detectados quando, às perguntas “o que é que ouves?”
ou “o que é que lês?” respondem, invariavelmente, “um pouco de tudo”, também
conhecidos como os “grandes eclécticos”. Esta magnanimidade e eclectismo escondem falta de vinco na personalidade, falta de originalidade de espírito
e falta de coragem em assumir ideias e posições que não estejam em conformidade
como o consenso geral. Marcelo Rebelo de Sousa apelidou a sua candidatura como
aquela defensora do consenso e de consensos e ele como o guardião do consenso geral;
ora, eu não quero um presidente que seja defensor do consenso geral quando o
consenso geral é mau, eu quero um presidente que rasgue o consenso quando o
considerar nefasto para o bem-estar do povo que representa, e para isso preciso
saber que ideias e posições um candidato presidencial defende e que o levarão a
considerar um consenso geral benéfico ou prejudicial para o país que o elege, o
que no caso do grande magnânimo Marcelo Rebelo de Sousa é impossível de
escrutinar...ele que afinal já não é “anti-aborto”, é apenas “anti-duas ou três
vírgulas no texto legislativo de despenalização do aborto”. Depois de um
presidente que dizia uma coisa numa semana e o contrário na semana seguinte para dali um mês poder
dizer ao país “eu bem avisei”, eu não quero um presidente que diga agora uma
coisa para na semana seguinte dizer que não foi bem aquilo que disse para dali
a cinco anos não ter de assumir a responsabilidade dos seus actos enquanto
Presidente da República.
3º Argumento – uma questão identitária
Por fim, aquela que considero ser a principal razão, por
mais profunda e enraizada ser, de não votar em Marcelo Rebelo de Sousa, o facto
de este se apresentar e se chamar por três nomes, Marcelo Rebelo de Sousa,
designando dessa forma uma ruptura identitária com a minha pessoa, que me
impossibilita de alguma vez votar em alguém que ostente, na sua forma de
apresentação pessoal, três nomes. Tendo terminado os últimos textos por mim
postados citando outrem, permitam-me, para me justificar perante os mais
curiosos acerca do motivo do meu “embirramento” com a questão dos três nomes, o
pretensiosismo de me citar a mim mesmo, remetendo-os para o primeiro texto por
mim escrito nesta escrivaninha: Em NOME da Diferença
Sem comentários:
Enviar um comentário