terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Mensagem de Natal: Jesus era comunista!

O presente texto, apesar do título poder ser ofensivo para muitos, não pretende ferir nem constranger os espíritos natalícios da época e estragar-lhes as santas compras; pretende, isso sim, conjugar aquilo que neste espaço se debate (política) com a quadra festiva que actualmente se vive (o Natal) e propiciar, do choque dos dois, um exercício intelectual incidente sobre a figura central do Natal (Jesus Cristo e não o Pai Natal) que decorra da seguinte pergunta: se Jesus fosse hoje vivo, de que força/partido político seria militante?
Ora, a pergunta colocada não é de todo descabida ou despropositada porquanto, afastando-nos nós do Jesus vendido e propagandeado pela Igreja Católica Apostólica Romana, apenas podemos considerar que Jesus Cristo era, no seu tempo, aquilo que se poderia designar um político…Um político radical, de ideias e ideais anti-sistema e “anti-establishment”, revolucionário, filósofo e visionário de uma visão ainda hoje não concretizada e cada vez mais longínqua. A sua doutrina ideológica de igualdade, de ajuda aos mais pobres, desfavorecidos e marginalizados, a ideia central da generosidade contra a da ganância e individualismo e o seu carácter revolucionário encontram ressonância maior, no que ao espectro político actual diz respeito, na doutrina comunista, que apregoa um completo a até violento desapego e despojamento do materialismo ostentador do mérito individual e individualista a favor de um bem pretensamente maior, comum e partilhado por todos. Poder-se-á questionar a justeza e até justiça de tal visão, numa óptica do “free-lunching” e do “free-riding”, o que não se pode é conotar ideologias políticas consubstanciadas na iniciativa privada, que consideram a redistribuição uma perversão à premiação do mérito dessa mesma iniciativa individualista, com o ideal cristão. É absurdamente paradoxal a maioria das pessoas que lerem o título deste texto ficarem de certa forma constrangidas com o mesmo mas acharem perfeitamente normal e aceitável partidos políticos, que consideram tirar a quem mais tem para dar a quem menos tem (no fundo uma ideia fundamental da doutrina cristã) um verdadeiro atentado ao seu conceito de justiça meritocrática, designarem-se “democrata-cristãos”….Isto é a definição de hipocrisia paradoxal e que apenas se pode compreender naquilo que é a eterna confusão e entre o que é cristianismo e o que é catolicismo, entre o que é Jesus Cristo e o que é a Igreja Católica. Se admitirmos que a pretensão daqueles que se auto-denominam “democrata-cristãos” se funda nessa confusão, então torna-se completamente compreensível designarem-se enquanto tal. Mas eu, enquanto apreciador de Jesus Cristo, da sua filosofia, da sua visão revolucionária e daquilo que foi a sua mensagem política, sinto ser meu dever contributivo neste Natal de 2015, ajudar a esclarecer e determinar a diferença entre o que é ser cristão e o que é ser católico e com base nessa diferenciação pedir, encarecidamente, às actuais ideologias políticas que se auto-designam “democrata-cristãos” que se passem a chamar, ao invés, “democrata-católicos” por muito mais apropriado ser à ideologia que lhes subjaz. Senão vejamos:
                ­“- Pavlíchev tinha uma mente clara e era cristão, um verdadeiro cristão – disse de repente o príncipe. – Como é que podia entregar-se a uma crença…não cristã? Porque o catolicismo é a mesma coisa que uma crença não cristã! – acrescentou repentinamente, com brilho nos olhos, passando os olhos por todos, mas sem olhar para ninguém.
                - É um exagero – murmurou o velhinho e olhou, surpreendido, para Iván Fiódorovitch.
                - Como é que o catolicismo não é uma crença cristã? – virou-se na cadeira Ivan Petróvitch. – Então que crença é?

                - É, em primeiro lugar, uma crença não cristã! – voltou a falar, numa extrema emoção e com demasiada aspereza, o príncipe. – Isto, em primeiro lugar. Em segundo lugar, o catolicismo romano é pior do que o ateísmo, é essa a minha opinião! Sim! A minha opinião! O ateísmo apenas propaga o zero, mas o catolicismo vai mais longe: apregoa um Cristo deturpado, caluniado e profanado por ele próprio, um Cristo ao contrário! Prega o anticristo, juro-lhes, juro-lhes! É a minha convicção pessoal, desde há muito, e tem-me atormentado… O catolicismo romano defende que sem um poder estatal universal a Igreja não sobreviverá na terra e grita: Non possumus! A meu ver, o catolicismo romano nem sequer é uma crença, mas uma mera continuação do Império Romano do Ocidente, e tudo no catolicismo está submetido à ideia de império, a começar pela fé. O papa apoderou-se da terra, do trono terrestre, e pegou na espada; então, a partir do momento em que o fez, tudo vai nesse sentido, só que o catolicismo acrescentou à espada a mentira, a manha, o embuste, o fanatismo, a superstição, a malfeitoria, tem brincado com os sentimentos mais sagrados do povo, mais autênticos, mais ingénuos, mais ardorosos, tem trocado tudo por dinheiro, tudo, pelo ignóbil poder terreno. Não será isso uma doutrina do anticristo?” (Fiódor Dostoiévski, em “O Idiota”).

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