Em 2007/2008 rebentou, que nem uma bolha de sabão (ou de
sebo talvez), a crise financeira de Wall Street. O rebentar desta bolha deveria
ter sido o culminar de um longo processo de edificação, metamorfose, evolução e
final implosão do capitalismo enquanto modelo vigente de organização e
disposição económico-social. Enraizada e com origem na Iniciativa Privada, a
crise financeira de Wall Street teve o condão de expor a fealdade da ganância
humana e as consequências catastróficas e criminosas que a iniciativa privada
movida por essa mesma ganância pode gerar no “bem-estar” da sociedade. Foi
Privada a Iniciativa de titularizar créditos de alto risco e vendê-los em
mercado livre e foi a ganância que faz mover essa mesma iniciativa que levou os
agentes do livre mercado a alimentar essas transacções concedendo créditos de
alto risco sem qualquer pudor e análise prudente…Pois claro, para quê analisar
se de seguida poderiam simplesmente colocar esses créditos de lixo num embrulho
e vendê-los nos endeusados mercados financeiros com o aval das sempre
imparciais agências de Rating, que classificavam este lixo como ouro sendo?
Pois bem, os créditos deixaram de ser pagos e os colaterais destes (bens
imóveis), amiúde sobrevalorizados (ai ganância ganância…), começaram a
desvalorizar fazendo rebentar a bolha de sebo e assim destruindo o último hospedeiro
para o Capitalismo saciar a sua ganância. Imediatamente se constatou que tal
estado de coisas não poderia continuar, que este comportamento dos agentes
económicos do dito livre mercado não poderia continuar alimentado por uma
ganância destruidora e já a raiar o irracional, o impulsivo, o animalesco. Algo
teria de ser feito para mudar de paradigma! Jamais poderíamos a voltar a
enfrentar este tipo de crises impávida e impunemente! Teria de ser colocado um
travão à iniciativa privada movida por uma ganância sedenta e cega a tudo a não
ser satisfazer-se a si mesma…De tudo se falou, do mais técnico (proibição dos
“Naked Short Sellings”, a regulação incidente de “Hedge Funds”, a separação da
banca de retalho da banca de investimento e claro muito mas muito mais
regulação do sector especulativo financeiro) ao mais politico/ideológico (impedir
de futuro a existência de entidades capitalistas globais “too big to fail”,
nacionalização da banca e mudança de regime organizativo da sociedade)…Do mais
técnico ao mais ideológico, uma coisa parecia certa no rescaldo imediato desta
crise – as coisas não poderiam continuar como antes e o sector privado financeiro teria de ser
responsabilizado e até punido pelo mal-estar que trouxe à sociedade como um
todo. Era o fim e o colapso do último estágio evolutivo do capitalismo, o
estágio da especulação financeira e talvez, porque a argamassa de que se faz o
Capitalismo Financeiro é a mesma que edificou o Capitalismo Mercantil, o
Capitalismo Industrial e, enfim, o Capitalismo em si mesmo (e falo desse valor
intrínseco já preludiado), chegou a pensar-se até, com legitimidade, que
poderia ser o fim do Capitalismo de Iniciativa Privada enquanto modelo vigente
de organização económico-social…Volvida quase uma década sobre o colapso “Wall Streetiano”,
interessa saber então o que foi feito perante a crise. A resposta é senão uma
perfeita ilustração da capacidade parasitária de persistir, de se superar e de se
reinventar do Capitalismo. Pois bem, restituamos, sintética e cronologicamente
o que foi feito perante a crise referida…
Estás a ser injusto, muito coisa foi feita. Uma carrada de bancos foi nacionalizada e sendo reprivatizada (geralmente) a preço de saldo. E foi feita muita legislação que no essencial não muda nada, mas enche os bolsos a advogados e consultores.
ResponderEliminarTouché...essa tua ironia vem mesmo a calhar pois serve de tónico perfeito àquilo que se constituirá o epílogo desta cronologia...O que disseste, os bancos nacionalizados e depois reprivatizados, e disseste bem a preço de saldo, constitui um exemplo perfeito do que abordarei no próximo post...
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